Tudo o que não vi,
aquilo que não sei,
que não vivi,
para minha desesperança,
é como um oceano azul imenso e desconhecido,
que ri de onda em onda,
a debochar de minha pequenez e clara ignorância.
Ainda assim, tento a cada instante, afogar-me no conhecimento infinito,
como se loucamente, meu âmago pudesse sorver o que a mim não fora concedido:
colher em imaginárias peneiras, o mistério que aos loucos enlouquece;
a certeza de que tudo é incerto.
Sim, eu devia ter contentado-me em olhar os frutos da terra, a acridade dos amores,
a delícia de ter amado, com sorte, a recíproca espontânea.
Mas quis mais do que a mim me bastava, amei mais do que precisava, desejei mais do que merecia.
E quanto menos as flores se abriam na garganta de um moinho estranho,
mais flores eu colhia no campo, em busca de colher- te.
Mas tu não foste capaz de me amar como as flores vulgares,
talvez porque foste a pitonisa e visionária.
Não sei.
Dou testemunho de que nada sei desse amor
que um dia partiu, e a mim me partiu.
E hoje ando só pelos campos ressequidos,
em busca da metade que me espera,
( essa metade desesperada).
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