Se você não segue o sistema, te chamam de "sistemático".

quarta-feira, 17 de abril de 2024

Outra Forma de Amar

 


Também tiram-me
o céu de sob os pés...
pois bem; fingirei calar-me.

Que ilusão!
Vou mergulhar
na opulência
das cores e pintar.

Pintar e pintar,
com a devoção
que se deve amar!
Ai meu Deus!
Como eu desejo
somente pintar!

Ocultar-me-ei
no branco da calla
e das camélias,
vou exaltar os
cachos de jacinto
de todas as cores,
como se um tapete
de prímulas
ou balsaminas
eu pintasse.

Quero sentir
a força do amarelo
do girassol e
do amarílis
e também
a profusão
do amor perfeito.

Vou emoldurar com a bardana
as mechas das lavandas
e as névoas de oleandros,
e hei de definir as pinceladas
verticais com a
personalidade do delfínio.

Próximo das flores
azuis vou mesclar o
violeta do limonium
e das  lobélias,
talvez salpicado
com pontos de miosótis
e ranhuras de rosmaninho.

Vou ferir tal degradê
com tufos do vermelho
da poinsétia,
sim eu juro que
o farei, com
a luxúria  da espátula.

Contudo,
depois de embriagar-me
com o cheiro do nardo;
das rosas e papoulas,
pintarei o seu retrato
com um mágico olhar.

Para consolidar o fundo,
vou cravar a consólida
entre cravos e cravinas
diluídas com
óleo e terebentina.

Acometido por
derradeiros delírios,
finalizo a tela com
borrões de lírios e heras;

e urge por
acónitos, com
um toque de urze
entre as folhagens
numa repentina
sempre-viva
vontade de te amar.


.

Nenhum comentário:

Postar um comentário